A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE

Para entender melhor o ser humano em suas múltiplas interfaces, necessário se faz, refletir sobre sua contextualização ao longo da história das ciências relacionadas aos processos humanos e interpessoais. A partir dessa vertente, sabe-se hoje que, para conhecer os processos humanos, necessário se faz também, o conhecimento do desenvolvimento do mesmo desde sua formação, passando pelas suas várias fases no decorrer de sua vida, até a velhice. E a esse processo, denominou-se: Desenvolvimento Humano, estudado pela Ciência da Psicologia, buscando-se compreender, observar, estudar, analisar para finalmente, ajudar a esses seres tão complexos a viver e lidar em sociedade e nos relacionamentos uns com os outros. Dessa forma, surgiu no cenário da modernidade a área da Psicologia, que se especializa nesse olhar diferenciado das demais áreas, que é a Psicologia do Desenvolvimento Humano.

Wachowicz (2011), discorre sobre alguns teóricos em seus estudos na busca para essa compreensão do desenvolvimento humano, e relata que: Lev S. Vygotsky (1896-1934) foi pioneiro nos estudos do desenvolvimento intelectual humano por intermédio das interações sociais, onde o mesmo se deteve ao estudo desse processo, através da origem da linguagem e do pensamento entre as pessoas, nas relações socias, principalmente na família, com os pais e também no ambiente familiar, dessa forma, deteve-se na valorização do coletivo e no meio social como fatores de interações ambientais que estruturam a base para as representações individuais e ainda afirma que, esse teórico, para conhecer o individual, adentra nos processos históricos, sociais e culturais do indivíduo.

Henri Paul H. Wallon (1879 –1962), debruçou-se sobre a criação de diálogos entre mestre e aprendiz para a formulação de uma teoria do conhecimento, alegando que a formação do homem se apresenta diante de uma base social e afetiva.

Jean William Fritz Piaget (1896 – 1980), tem como base de sua teoria, o envolvimento da observação e análise comportamental de inúmeras crianças, desde o nascimento até a fase da adolescência.

A partir dessas teorias, e ao longo da história, muito se tem sido estudado e descoberto sobre o indivíduo e suas relações sociais no que concerne ao seu desenvolvimento, mas as bases fundamentais desses estudos e descobertas, sempre têm surgido a partir desses referenciais que deram contribuições de suma importância ao conhecimento do ser humano.

Os seres humanos, se diferenciam entre si de forma, indiscutivelmente, única e íntima. Cada um carrega em si, características que o fazem ser singular em um mundo de milhões e isso se deve ao fato, de serem seres distintos e donos do que conhece como personalidade, característica essa, inerente a cada indivíduo em particular.

Sabe-se que a Personalidade, deriva da palavra em latim “personalis”, pessoal, que ainda carrega em seu significado a soma de muitos caracteres diferentes e variáveis, intelectuais, afetivos e físicos, que confere a cada pessoa uma individualidade como uma semelhança a seus iguais. A personalidade significa a organização física, psíquica, social e cultural do indivíduo (ARAÙJO, 2011). Dessa forma, a personalidade desenha-se como uma identidade que carrega de forma individual, a impressão digital que  diferencia dos outros sujeitos do mundo. “A personalidade é representada pelo modo habitual de ajustamento que o organismo efetua entre as exigências individuais e as do ambiente” (MIELNIK, 1987, p. 208, APUD ARAÙJO, 2011).

Porém, apesar de possuir personalidades diferenciadas, tem-se padrões, valores morais e culturais, regras e respeito mútuo para viver bem socialmente, mostrando que, as pessoas que fogem a esse padrão comportamental, seguem padrões intrínsecos ao seu próprio eu e que, via de regra, não concebem os padrões sociais como todas as outras pessoas as percebem, apontando assim inevitavelmente, para algum tipo de distúrbio ou confusão mental, requerendo dessa forma, uma melhor observação clínica a respeito.

A espécie humana é muito singular em suas características, Wachowicz (2011, p. 23) diz que: O ser humano é ao mesmo tempo um ser genérico, pois traz as características da espécie humana – bipedia, polegar indicador com movimento de pinça, linguagem, pensamento, criatividade - como também guarda aspectos singulares, próprios de cada pessoa. Neste segundo ponto é que se pode afirmar que a característica mais marcante do indivíduo é a sua personalidade. Mas, o que é personalidade? Este termo pode ser definido como a individualidade ou aspectos que caracterizam uma pessoa em específico, como seu caráter, moral, índole, temperamento, cultura, grau de instrução, preconceitos, habilidades, aptidões[…]

A personalidade, identificada em traços inerentes e peculiares  fazem parte de uma pessoa como ser único e peculiar, é o que o torna ser quem é, é a soma de várias peças individuais que forma o quebra cabeça intimamente do indivíduo. Dessa forma, pode-se referenciar como sua própria identidade, pois é ali, na personalidade, que identifica as pessoas como seres exclusivos e diferenciados dos demais. É a sua história contextualizada, é o seu histórico contado de maneira aberta ao outro social, nas relações sociais, no ser-com-o-outro, é o ser por si só, único. A palavra identidade acaba sendo utilizada no senso comum como sinônimo de personalidade. A carteira de identidade traz dados específicos do cidadão: nome completo, filiação, data de nascimento, naturalidade, nacionalidade, sexo, número de registro geral (RG), assinatura e a digital do polegar direito. Estes dados são considerados como demográficos, pois apresentam características básicas que ajudam a reconhecer a formação ou origem de uma pessoa.

Schermenhorn et al (1999) apud Wachowicz (2011) ainda inclui a estes dados demográficos fatores como etnia, profissão, estado civil e capacitação física e mental.

A Psicologia do Desenvolvimento  mostra que o ser humano vai se construindo ao longo de sua existência, adquirindo pelo meio social e seus interesses, essas características como diferenças e referências de si mesmo, dessa forma, ele cresce, amadurece, se desenvolve, se torna ele mesmo. Essa construção vai se evidenciando através do processo natural inerente ao seu contexto social, interesses, religião, cultura, profissão, relações afetivas, a fase da vida em que se encontra (se criança, adolescente, adulto, idoso), entre outras questões intrínsecas e extrínsecas ao mesmo. Essas mudanças vão acontecendo ao longo da vida, porque as pessoas vão aprendendo umas com as outras, vão estudando, observando, refletindo, vivendo experiências positivas e negativas que produzem nelas mudanças que as tornam únicas no mundo (WACHOWICZ,2011).

Ainda nos escritos dessa autora, ela diz que, os estudos em psicologia afirmam que a personalidade é formada, na sua essência, nos sete primeiros anos de vida. Mas na medida em que o indivíduo cresce, torna-se um adolescente, adulto e, posteriormente idoso, aspectos periféricos ou superficiais da personalidade vão sofrendo mudanças. Algumas crises de identidade, questionamentos, redefinições, dificuldades que alteram a forma de ver e de se autoconhecer. Não é possível imaginar que ao longo de toda uma vida as ideias que compõe a mente e comportamentos de um menino de dez anos perdurem exatamente as mesmas quando este estiver com quarenta anos ou mesmo mais tarde, conclui a autora.

Um outro ponto muito interessante nos estudos relacionados a Personalidade, ou compreensão de seu entendimento, são as questões voltadas para os conceitos de julgamento da mesma, ou seja, se essa ou aquela personalidade é mais “forte” ou “adequada” a determinadas situações e contextos. É necessário que se entenda que, é a cultura, os valores e a forma de entender de cada indivíduo ou sociedade que dá uma conceituação e um juízo, dependendo da forma como concebe. Não há como caracterizar a personalidade das pessoas em boas ou ruins, fortes ou fracas. O que existe é a personalidade em si, a subjetividade do indivíduo. O julgamento de valor sobre a personalidade alheia é próprio de cada um e comumente está carregado de estigmas, preconceitos e favoritismos (WACHOWICZ, 2011).

Atualmente, existem muitos estudos relacionados ao entendimento e aspectos relacionados a personalidade, porém, esse não é um estudo novo, pois há muito se tenta entender e explicar a personalidade como fator importante aos aspectos relacionados ao ser humano. A exemplo de Freud (1856-1939) em seus estudos com base na Psicanálise (teoria criada por ele), a qual  mostra que a Personalidade é composta por três grandes sistemas: id, ego e superego, onde ele diz que é o inconsciente que direciona grande parte do comportamento humano.

Outra vertente importante foi a Escola de J. F. Skinner (1904-1990) que diz que a aprendizagem do comportamento se dá pelo condicionamento. Sabe-se que, entender as interfaces da personalidade, não é algo de fácil compreensão e que muito ainda se tem a descobrir, porém, pode-se observar que encontra-se sempre os três elementos que em algum momento, se sobrepõem um ao outro, que são os aspectos voltados para as questões biológicas, psicológicas e sociais do indivíduo. E é a junção dos aspectos biopsicossocial, que faz-se aproximar mais dessa compreensão, apesar de sua complexidade.

Um outro estudo acerca da personalidade, foi desenvolvido por Carl G. Jung (1875-1961), que debruçou-se sobre os tipos psicológicos que estão relacionados ao inconsciente humano, que é o diferencial entre a forma de pensar e os comportamentos. Neste sentido, ele apresenta dois grandes grupos:

Os extrovertidos: formados por pessoas que apresentam confiança e partem ao encontro ou busca de seus ideais e da resolução de problemas e os introvertidos: pessoas que hesitam, adiam ou mesmo recuam, pois não se sentem confiantes para partir sozinhas ao embate  (WACHOWICZ, 2011, p 24-25).

No que concerne aos tipos de personalidades apresentadas pelo autor, não existe juízo de valoração referenciando se esta ou aquela é melhor ou pior que a outra, mas sim, uma diferenciação peculiar entre elas, para lidar com as questões relacionadas aos enfrentamentos da vida.

Além da teoria dos arquétipos (que seria um modelo pelo qual se faz uma obra material ou intelectual) desenvolvida por Jung (1875-1961), ele também destaca a caracterização em subgrupos a essas duas formas distintas de personalidade, a introversão e extroversão, que apresentam-se no indivíduo como forma de construção de sua individualidade onde ele destaca: as sensações, o pensamento, o sentimento e a intuição.

Esses subgrupos são conceituados por Wachowicz (2011, p. 25) como:

Sensação: adaptação da pessoa à realidade objetiva; Pensamento: aspecto mais racional que busca esclarecer o significado dos objetos e fatos; Sentimento: as emoções sempre antecedem suas decisões; Intuição: percepção do ambiente externo por intermédio do inconsciente.

Assim sendo, tem-se percebido ao longo do tempo e a partir das valiosas contribuições teóricas, que a personalidade se molda e se individualiza a cada fase, crescendo com o ser em desenvolvimento, mas a adolescência, por ser um período transitório e de difíceis enfrentamentos, tem um papel importante na “emolduração” da finalização da mesma. A fase da adolescência trás para o ser humano, um período de conflitos e busca de encontro consigo mesmo e com o outro. Pode tornar-se em um turbilhão de dificuldades, emoções, pensamentos e sentimentos que estão baseados nas questões biológicas (hormonais), físicas (relacionadas as mudanças na estrutura corpórea), sociais (nas relações consigo mesmo e com os outros), entre outros fatores relacionados a descoberta sexual, política, de classe social, etc. A partir desse contexto, pode-se entender os motivos pelos quais há uma tão difícil compreensão nas dificuldades relacionais humanas existentes, ocasionando em alguns, algo tão complexo e difícil.

Aos fatores biopsicossociais, pode-se eleger toda a responsabilidade relacionada aos comportamentos das pessoas, maneira de ver o outro, se relacionar nos grupos, a sua própria maneira de pensar, somando-se a isso, as características genéticas e o ambiente onde o sujeito está inserido, entre tantas outras questões. Porém, observa-se  nos estudos realizados (Wachowicz, 2011 e Araújo, 2011) que as relações afetivas e sociais, são disparadores de construção da personalidade no adolescente, visto que, a forma como o mesmo é tratado no seio da família e no seu ambiente escolar, contribuem imensamente na forma como o adolescente lida com o seu mundo interior e o seu mundo exterior, construindo a sua própria identidade como ser único, porém, também  mostra que, essa personalidade pode ganhar “atenuantes” diga-se assim, com relação a melhoria de possíveis comportamentos aceitáveis na adolescência mais que são modificados na idade adulta , até a velhice, por não serem mais “adequados” a essas fases da vida.

                                                                           Autora: Assirlene Xavier

 


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