ADOLESCÊNCIA E ESPAÇO ESCOLAR

Por ser este um período de tensões e conflitos internos e externos, a adolescência, propicia ao jovem a vulnerabilidade a atitudes agressivas, de contestação, rebeldia, ao contato com drogas ou vulnerabilidade a possíveis problemas psíquicos relacionados a transtornos comportamentais  e de conduta social.

A adolescência é o período da vida que se situa entre a infância e a idade adulta, inicia-se com as transformações da puberdade (por volta dos 11 anos) e termina com a entrada na vida adulta (por volta dos 20 anos), não estando o seu final claramente definido. Consiste numa fase de transição, na qual ocorrem transformações de carácter físico; social (mudanças na relação com os pais, amigos, sexo oposto); e psíquico (mudanças ao nível cognitivo e no modo de se ver a si próprio). São características desta etapa da vida: a maturação dos órgãos reprodutores; alterações no corpo, que o aproximam da forma que terá na vida adulta; a emergência do pensamento formal; uma maior autonomia face aos pais, comparativamente ao que acontecia na infância; o alargamento das relações sociais com os pares; alterações no relacionamento com o sexo oposto; a construção de projetos de carreira e de valores; e, finalmente, a construção de uma identidade positiva ( MARTINS, 2005).

Dessa forma, pode-se perceber a adolescência a partir de dois aspectos: como um momento evolutivo do gênero humano que segue certos princípios gerais e como resultante de fatores socioculturais (KNOBEL, 1981). E desse pressuposto podemos constatar que, os fatores socioculturais influenciam os jovens mas, existem determinantes psicológicos e biológicos também, que mostram-se fundamentais neste processo e que sempre caminharão com o adolescente em seu percurso á idade adulta.

Aberaustury (1996), com base psicanalítica, afirma que, o jovem adolescente precisa vencer três perdas fundamentais realizando os respectivos lutos dessa fase que são: o luto pelo corpo infantil, pela identidade infantil e pelos pais da infância. Aberastury e Knobel (1982, p 114-119) descrevem os “lutos” que devem ser elaborados pelo jovem, ao ingressar na adolescência como:

  • Luto pela perda do corpo infantil: aceitar e conviver harmoniosamente com o corpo, agora mudando e que toma proporções adultas; “luto” pela perda dos país da infância: pais mudam em sua forma de tratar o jovem, agora já não mais protegendo, mais orientando; “luto” pela perda da identidade infantil: o adeus á infância, com suas facilidade e possibilidades de erro desculpáveis devem dar lugar a um ser mais estruturado e atuante com características atitudinais mais maduras. Dessa forma, é um período de transição doloroso, com um processo de difíceis transformações. Lutos dos quais o adolescente precisa elaborar para poder integrar-se a vida adulta. E se manifesta através de uma conduta psicológica que Knobel chama de “normal” nesta etapa da vida.

È preciso conhecer a dinâmica do contexto em que este jovem está inserido para que, a partir daí, se observe seu “referencial” patológico, visto que, se aprofundar no que foi definido por Knobel como Síndrome Normal da Adolescência, compreende-se esta etapa como lógica e coerente e como fator de desenvolvimento da humanidade. Essa Síndrome é definida por ele como:

  • Atitude de instabilidade emocional, alternando períodos de audácia e timidez, desinteresse e urgência, introversão e extroversão, e, ao mesmo tempo, por conflitos afetivos, crises religiosas, ascetismo, homossexualidade ocasional e condutas dirigidas para a heterossexualidade (KNOBEL, 1981, pág 119).

Observa-se que nas culturas contemporâneas, evidencia-se nos adolescentes os mesmos conflitos e atitudes relacionadas por esse autor e que, não é difícil constatar as coerências relevantes entre as mesmas nesta fase do desenvolvimento humano, o que nos faz compreender esta etapa como lógica e coerente no contexto necessário ao crescimento do indivíduo.

Esta chamada Síndrome Normal da Adolescência é uma busca incessante de encontrar-se consigo mesmo e com o outro na fenomenologia da existência de cada indivíduo. É a partir dos conflitos internos e externos que o indivíduo cresce, conhece a si mesmo, ao outro e aprende a lidar com o meio em que vive, buscando seus próprios recursos internos e externos para o seu desenvolvimento e sobrevivência enquanto “ser” no mundo. Dessa forma, cabe aos pais e demais adultos, ajudar os mesmos, oportunizando na contribuição e orientação necessárias ao desenvolvimento desse processo (KNOBEL,1981).

De acordo com Lesourd (2004) o indivíduo adolescente, encontra-se em conflito constante entre o eu e o ser social, deparando-se com questionamentos, regras e conflitos subjacentes a sua cultura. Ao mesmo tempo em que, necessita da aceitação de si mesmo enquanto ser único, necessita da aceitação do meio em que está inserido e esses dois caminhos, por si só já demandam maturidade psíquica para interpretá-los de forma adequada e coerente. E nesse interim, conflituoso, o adolescente hora sente-se e age de forma coerente “socialmente”, hora age de forma incoerente aos padrões sociais, o que acarreta, muitas vezes conflitos tempestuosos com a família, no ambiente escolar, na própria sociedade e consigo mesmo. Nesse ponto, emerge uma necessidade latente e coerente para que ocorra a maturação, de uma reorganização mental, psíquica, na qual o adolescente possa se situar, amadurecer e crescer a partir de suas próprias experiências individuais.

Assim sendo, a reorganização do espaço psíquico e físico é marcante da adolescência em construção.

Para Lesourd (2004), o adolescente está:

  • Á espera da designação de um lugar, ou, em outras palavras, de significantes que o representariam junto a significantes do discurso social, o adolescente usa do espaço externo como de um palco onde possa expressar o íntimo de sua busca. Faz da rua um exterior íntimo. (p. 206).

 Será no laço social, ou ausência deles, que a psicopatologia na adolescência se conformará, e, entre os sintomas mais comuns disso, encontram-se as toxicomanias e as diversas formas de delinquência. Dessa forma, torna-se o jovem, o alvo sugestionável e sujeito aberto a experiências “novas e desafiadoras”, que busca o reconhecimento do grupo e o papel de destaque ou líder em seu meio social ou ao menos, membro aceito do mesmo. As mudanças corporais e psicológicas ocasionadas nesse processo, necessários ao seu desenvolvimento físico, mental e social é, sobretudo, passível das cobranças da sociedade, o que o torna suscetível e vulnerável a toda e qualquer pressão a que seja exposto (ABERASTURY,1980).

Sabe-se que, os adolescentes opõem-se as regras sociais e diverge dos padrões aceitáveis pela sociedade. Passa a apreciar novos valores, hobbies e ídolos os quais constantemente, são adversos aos valores e padrões familiares tradicionais que vão sendo paulatinamente, substituídos nesse processo por atitudes, ações, ideologias e crenças que destacam-se e se chocam com os mesmos. Essa forma de pensar e agir vem sendo observada na sociedade geração após geração, apesar dos avanços tecnológicos, sociais e culturais, de forma mais específica, no ambiente escolar (ABERASTURY,1980).

Notadamente, a escola é um espaço importante, na sociedade, para a aprendizagem de novos conhecimentos, saberes, competências e crescimento pessoal e de interações humanas no que concerne as relações inter e intrapessoais, dessa forma, os adolescentes criam novos laços de amizade, aprendem a lidar com um novo olhar sobre as questões sociais, políticas e educacionais, assim bem como, afetivas, o que torna o adolescente mais participativo ( ou não) do convívio social, ideais, aprendizagens e habilidades que o fazem amadurecer psíquica e fisicamente para tornar-se independente e dono de sua própria realidade. Porém, sabe-se que as escolas também, tornaram-se palco de inúmeras cenas de desrespeito, agressões físicas e verbais entre educandos e educadores e entre os próprios educandos, como também, falta de controle e limites as questões voltadas a sexualidade e a drogadicção. Nesse cenário, as ações relacionadas a problemas de confronto entre os adolescentes, é muito comum e ainda um tema pouco discutido no ambiente escolar por educandos, educadores e familiares (SILVA,2011).

As situações de conflito que levam a agressão, exercem um papel devastador nas relações sociais e consequentemente, na aprendizagem. Por esse motivo, há uma preocupação constante com relação a forma de lidar com a questão. Existem múltiplos fatores que facilitam a existência desse problema em nossa sociedade e particularmente, nas instituições escolares. Por exemplo, quando as crianças carecem de modelos pró-sociais. Para tomar como exemplo, o desemprego e a pouca perspectiva de um futuro estável e produtivo. O próprio bairro pode tornar-se um cenário de violência, quando a violência das gangues alastra-se na forma de conflito de território, criando formas de insegurança (BOCK apud SILVA, 2011)

Pode-se entender que a família e a escola, devem ser parceiras no que concerne as reflexões e discussões relacionadas aos conflitos entre os adolescentes, buscando manter um constante diálogo entre os mesmos de forma corriqueira, facilitando assim, os processos de enfrentamento de conflitos escolares, visto que, a família tem grande influência na formação da personalidade da criança, através do vínculo, da interação entre os membros da mesma família (SILVA, 2011).

 É no seio da família, que o indivíduo aprende a ser e se relacionar com os outros seguimentos sociais de seu meio, aprendendo a lidar de forma coerente ou não com as situações da vida, a partir do que aprendeu com seus familiares e pessoas mais próximas. Para Ballone (2004, apud SILVA, 2005, p. 171):

  • A televisão, os videogames, a escola e a situação socioeconômica podem ser os elementos ambientais relacionados à conduta agressiva. Embora esses três fatores (individuais, familiares e ambientais) sejam inegavelmente influentes, eles não atingem todas as pessoas por igual e nem submete todos à mesma situação de risco.

Embora existam situações e dispositivos que propiciem as situações de reação agressiva no adolescente, elas por si só, não se justificam pois, podem aparecer em algumas situações e em outras não, quando trata-se de situações de risco iminente para atitudes agressivas, principalmente, no âmbito escolar.

Segundo Silva (2011), a falta de limites ocorre quando o aluno não é conscientizado sobre seus atos agressivos, quando desconhece ou apenas não obedece às regras estabelecidas pela instituição. Ao invés disto, há transferência de responsabilidades (professores para diretores, escola para família ou vice e versa). Soma-se a isto, a falta de incentivo de valores morais e éticos, como respeito às diferenças e a solidariedade tão necessária para a formação do caráter dos indivíduos, e muitas vezes, são omitidos pelas escolas que se preocupam mais em passar conteúdos do que desenvolver cidadãos críticos capazes de transformar a realidade em que vivem e investir em uma vivência harmônica com os demais.

Muito se tem discutido de onde surgem os comportamentos agressivos e/ou violentos, que têm levado tantos adolescentes a abandonarem a escola, tornarem-se também indivíduos com comportamentos violentos ou abusivos e, em outras ocasiões, até mesmos se ferirem gravemente ou perderem a vida nessas situações.

 De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacioanais-PCNs (BRASIL, 1997), a agressividade humana e as condutas violentas decorrem de fatores sociais, de contextos culturais e de sistemas morais. Portanto, a violência não pode ser concebida como característica individual, mas como um problema social diretamente ligado à justiça. Apesar disso, a democracia empregada como um regime político e um instrumento de convívio social que se dispõe a tornar viável uma sociedade composta de pessoas distintas entre si, pode possibilitar a convivência pacífica numa sociedade pluralista, onde haja a expressão de diferentes opiniões e concepções (BRASIL, apud SILVA, 2011).

Há, no contexto escolar, uma notória dificuldade de parceria entre a família e a escola, entre os agentes que educam e os que, por sua vez, propõem-se ao contexto de serem educados. E esse, torna-se um fator de déficit na aproximação dos mesmos para  o diálogo, a reflexão, a troca de ideias, de projetos, de ações, de incentivo a ações pacíficas no ambiente escolar. Sabe-se que é necessário que a escola cumpra o seu papel de disseminadora do conhecimento histórico e científico, porém, o eixo sobre as relações humanas, deve ser mais discutido e experienciado por todos os atores envolvidos no processo educacional, pois a escola é palco de uma diversidade muito pluralista de relacionamentos humanos, fator esse que a torna palco também de conflitos e confrontos.

Silva (2011), destaca em seu artigo a Lei nº 8.069/1990 que rege o Estatuto da Criança e do Adolescente, 2002, em seu Art.4º, diz que:

  • É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária.

De certa forma, todos os seguimentos da sociedade, exerce papel de extrema importância na formação do cidadão, e que, cada um desses seguimentos, devem estar alinhados entre si, para que exista saúde física, psíquica e principalmente, harmonia nas relações inter e intrapessoais do ser humano, pois assim sendo, pode-se assegurar respeito, diálogo e qualidade de vida a todos. Porém, sabe-se que ainda está distante de alcançar esse patamar devido as injustiças sociais, cenário político atual, entre tantas outras questões vinculadas diretamente a realidade, então, deve-se buscar dentro do contexto do âmbito escolar, criar situações que promovam, ao menos, a conscientização da necessidade de respeito ao próximo com a diminuição de atitudes agressivas físicas e verbais ao outro e potencializando as relações de diálogo e respeito.

                                                                                                                                                                                                                                           Autora: Assirlene Xavier

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